quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Frutas do Cerrado Brasileiro



Para proteger o cerrado é preciso conhecê-lo. O cerrado, também chamado de savana brasileira, ocupa uma área de mais de dois milhões de quilômetros quadrados, cobrindo 20% do território nacional na região do Planalto Central do país. Apesar de não parecer, com suas árvores esparsas e amplas áreas cobertas de gramíneas, o cerrado abrange pelo menos cinco ecossistemas diferentes e possui uma biodiversidade riquíssima, com cerca de 4400 espécies endêmicas de plantas e 1500 espécies de animais.

Infelizmente, as atividades de garimpo e mineração e o avanço contínuo e violento do agronegócio desde a década 1960 fizeram com que o cerrado se tornasse o bioma brasileiro que mais sofreu alterações pela ocupação humana depois da Mata Atlântica. Globalmente, o cerrado foi incluído em uma lista de 25 ecossistemas no planeta que sofre sério risco de extinção.


Conhecer mais sobre o cerrado é o primeiro passo para resistir efetivamente contra a destruição desse bioma. Esse é o caso, por exemplo, da comunidade local no interior de Goiás que extrai de maneira sustentável o fruto da faveira e consegue vendê-lo diretamente para a indústria farmacêutica, sem intermediários. Da mesma forma, a produção de picolés de frutas do cerrado, também no estado de Goiás, contribui para o manejo sustentável de toda uma região para a coleta dos frutos todos os anos.

Conheça você também alguns frutos típicos do cerrado brasileiro. Frutos como…

Bacupari-do-Cerrado (Salacia elliptica)


Nativa do Vale do São Francisco, Pantanal, Planalto Central e partes da Mata Atlântica, o bacupari-do-cerrado possui polpa espessa e consistente, mas com sabor adocicado e agradável. Sua árvore pode atingir até 8 metros de altura e amadurece seus frutos nos meses de novembro e dezembro. Costuma-se consumir o bacupari-do-cerrado in natura.

Benefícios do bacupari

Como dito anteriormente, essa fruta tem grande poder antioxidante, o que é um dos principais benefícios que oferece. Porém, conta com diversos outros benefícios.

Um dos benefícios do bacupari é a prevenção de cáries, pois a fruta contém propriedades que conseguem combater a bactéria que causa placas e cáries, a Streptococcus mutans.

Esse tipo de bactéria é a responsável pela produção de um ácido que acaba por corroer os minerais que os dentes possuem. Com isso, o consumo da fruta é muito importante para essa prevenção.

Ademais, a bacupari fruta tem capacidade de prevenir a formação de outras bactérias, as responsáveis por interferirem no funcionamento do intestino. Em geral, essa fruta previne distúrbios intestinais que podem causar cólicas, constipação, dores abdominais, fadiga e muito mais.

Outro benefício que a fruta oferece é em relação ao tratamento de problema de pele. E, nesse caso, também atua na prevenção, pois tem o poder de prevenir manchas na pele. Além disso, proporciona a aceleração do processo de cicatrização e auxilia na cura de dores, picadas, queimaduras e ferimentos em geral.

Ademais, o consumo de bacupari pode prevenir outros tipos de doenças graves. Uma delas é a tuberculose, bem como a lepra. Ambas são originadas através de bactérias patogênicas. E a fruta tem capacidade de causar efeitos positivos nesses casos, pois consegue atuar nessas bactérias. Dessa forma, o consumo de bacupari traz inúmeros benefícios à saúde, sendo uma fruta muita indicada para fazer parte da rotina alimentar.


Pêra-do-campo (Eugenia klotzschiana)


“Eu nem tinha começado a conversar com aquela moça, e a poeira forte que deu no ar ajuntou nós dois, num grosso rojo avermelhado. Então eu entrei, tomei um café coado por mão de mulher, tomei refresco, limonada de pêra-do-campo.” – Trecho do livro Grande Sertão: Veredas.

Imortalizada na obra de Guimarães Rosa, a pêra-do-campo, conhecida também como cabacinha-do-campo, é uma fruta grande (variando entre 60g e 90g), com casca fina e polpa suculenta de sabor doce azedinho, muito característico. Sua árvore é, na verdade, um arbusto que varia entre 0,5m e 1,5m de altura, e frutifica no verão, a partir de outubro. É normalmente consumida in natura, em geléias ou na célebre “limonada de pêra-do-campo”. Pode ser plantada em vaso e é essencial em projetos de recuperação do cerrado.

Benefícios da Pera do Campo Serve Como Anti-Inflamatória: Além de ação antioxidante, alguns fito-nutrientes da pera também apresentam uma atividade anti-inflamatória. O consumo da pera ajuda a atenuar doenças como a gota e a artrite e a diminui a dor provocada por elas.

Murici (Byrsonima crassifólia)


Muito comum em todo o cerrado e em solos arenosos na região Amazônica, o muricizeiro é uma árvore típica do cerrado, de baixa estatura e tronco todo retorcido. Seu fruto, o murici, tem polpa carnosa com uma semente só. Possui sabor e aroma muito apreciados, sendo consumido de uma infinidade de formas – in natura, em sucos, geléias, compotas, doces, picolés e até como farinha. O murici amadurece principalmente entre fevereiro e maio.

Combate a tosse e a bronquite (uma das espécies de murici) é utilizado popularmente no tratamento de diarreias e disenterias. As cascas contêm polifenóis que podem ser atribuídas atividades antimicrobiana, anti-hemorrágica, antidiarreica e anti-inflamatória.

Cagaita (Eugenia dysenterica)


A cagaita é uma delícia, mas conforme o próprio nome sugere, não a coma muito madura, aquecida pelo sol, ou em grande quantidade se não quiser passar uma temporada no banheiro. Bastante carnuda e suculenta, a cagaita tem sabor azedinho que lembra o araçá e dá em uma árvore de tronco curto de copa frondosa, que chega a no máximo 8 metros de altura. É muito consumida in natura, em sucos, picolés e sorvetes. Pode ser encontrada no pé entre outubro e novembro.

Fruta cagaita é rica em vitaminas A, B2, B3, C e agentes antioxidantes. ... Além disso, ela é rica em vitaminas B2 (riboflavina), B3 (niacina) e C, que são indispensáveis para a saúde do cérebro, do coração e fazem bem para a saúde da pele - pois apresentam ação antioxidante, prevenindo o envelhecimento precoce.

Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii)


Também conhecida por mamica-de-cadela, algodão-do-campo, amoreira-do-campo, mururerana, apé, conduru e inhoré, a mama-cadela é um arbusto pequeno muito típico em todo o cerrado. O fruto é todo enrugadinho, com a polpa fibrosa e suculenta, com sabor que lembra o de um coquinho de macaúba.

Consumido in natura, é também muito usada em chás e outros tipos de preparação caseiras para o tratamento de vitiligo (o que pode ser perigoso, dado que, dependendo da dose, seu uso pode levar à intoxicação hepática e queimaduras). Uma pesquisa está sendo financiada pelo governo federal e um medicamento já está em fase final de desenvolvimento, mas ainda não foi testado em humanos.

Ela possui diversos benefícios à saúde, por isso sua suplementação vem sendo popularizada. Seu benéfico mais conhecido é o cuidado com a pele, podendo promover maior repigmentação, aumento nos níveis de melanina, além de tratar diversos problemas de pele como eczemas e dermatites.

Pequi (Caryocar brasiliense)


O pequi é conhecido como ouro do cerrado e é um dos frutos mais famosos da região. O pequizeiro é uma árvore bonita e frondosa, que pode chegar até 12 metros de altura e produz seus frutos de novembro a janeiro. Grandinho como uma maçã e de casca verde, o pequi possui caroços revestidos por uma polpa macia riquíssima em vitamina C, que possui pequenos espinhos por baixo.

Embaixo dos espinhos encontra-se uma amêndoa, também muito apreciada, que pode ser consumida torrada, in natura, caramelizada, em licores, e até em óleos, como cosmético. O pequi é muito utilizado na culinária regional, sendo comumente cozido no arroz e no feijão. Se deu vontade e tem um pequizeiro perto de casa, confira algumas receitas.

Muito utilizado na culinária regional em deliciosos pratos como o arroz com pequi, ou ainda como tempero, em conserva e como matéria-prima para a produção de licores, sorvetes e ração para animais, o pequi é um fruto muito versátil. Sua polpa tem o dobro de vitamina C de uma laranja e é rico também em vitaminas A, E e carotenóides. Tais fatores tornam o fruto um aliado no combate ao envelhecimento e na prevenção às doenças associadas à visão. Mas os benefícios vão além: sua amêndoa é utilizada na fabricação de um rico óleo que possui ação anti-inflamatória, cicatrizante e gastroprotetora.

Baru (Dipteryx alata)


Espécie ameaçada pela extração predatória de sua madeira, o baruzeiro é uma árvore alta e imponente, que pode chegar até 20m de altura. O seu fruto, o baru, é uma castanha com sabor similar ao do amendoim, com alto teor protéico. O problema é que a casca do baru é tão dura que é difícil abrir o fruto sem quebrar a amêndoa dentro (pense: dá para usar os restos de casca em calçamento, no lugar de brita, de tão resistente que é). Por isso, a técnica utilizada para quebrar o fruto costuma ser de corte transversal ou com pressão mecânica.

Como as castanhas em geral, a amêndoa do baru é muito versátil e pode ser consumida tanto in natura, como torrado, em paçoca, rapadura, pé-de-moleque, farinhas e mais uma infinidade de receitas. Sua polpa também pode ser consumida e costuma ser usada em óleos, manteigas e tortas. Os frutos amadurecem de setembro a outubro.

A oleaginosa tem propriedades antioxidantes, é rica em vitamina E, zinco, ferro, potássio, cálcio, fósforo, magnésio e ácidos graxos. Além de ajudar a diminuir o colesterol e a combater doenças cardiovasculares, estudos mostram que o baru também ajuda a diminuir os riscos de Alzheimer, diabetes, obesidade e câncer.

Araticum (Annona coriacea)


Típica de áreas secas e arenosas do cerrado, o araticum é coberto por uma grossa casca marrom e possui no seu interior um monte de semente lisa e preta com uma polpa delícia ao redor. É consumido principalmente in natura, sucos e doces, e pode ser encontrado no pé de janeiro a março.

O consumo dessa fruta pode trazer diversos benefícios para a saúde, como auxiliar no sistema digestivo, perda de peso e inchaço no corpo. Fruta é rica em vitaminas A, B1, B2, C e agentes antioxidantes. ...Araticum tem alto teor de cálcio, potássio, ferro e outros minerais importantes. ...É fonte de fibras alimentares,

Buriti (Mauritia flexuosa)


O buriti é uma palmeira não cultivada, mas muito comum em boa parte do país. Alto, chegando até 30m de altura, o buritizeiro dá por volta de cinco cachos de buriti todo ano (cada um deles, com cerca de 400 a 500 frutos) entre abril e agosto, que demoram quase um ano para amadurecer. Quando isso acontece, por volta de fevereiro, a polpa saborosa é consumida in natura, em doces, picolé e até fermentada, como vinho. O óleo da polpa também pode ser usado para frituras.

A geleia de buriti apresenta potencial antioxidante, vitaminas A e D, além de consideráveis teores de fibras. Desta forma, a utilização da polpa de buriti na fabricação de geleias é uma alternativa viável tecnológica e nutricionalmente.

Cereja-do-cerrado (Eugenia calycina)


Para quem gosta de pitangas, a cereja-do-cerrado é considerada o santo graal do gênero. Dando em um arbusto pequeno e muito ornamental, de cerca de 2m de altura, é uma fruta de polpa espessa, muito suculenta, macia e de sabor doce delicioso. Pode ser consumida in natura ou em doces, geléias, gelatinas e sorvetes, e costuma aparecer madura no pé entre os meses de outubro e janeiro.

Os frutos de E. calycina são refrescantes e ricos em vitamina A.

Mangaba (Hancornia speciosa)


Com polpa suculenta e ligeiramente leitosa e azedinha, a mangaba é o fruto da mangabeira, árvore típica da caatinga, mas comum também em diversas regiões do cerrado. Rica em vitamina C, é normalmente consumida tanto in natura, como em geléias, compotas, sorvetes e licores. Sua árvore pode atingir até 10 metros de altura e tem aspecto rústico e retorcido, com tronco e folhas que fornecem um látex conhecido como “leite de mangaba”, com propriedades medicinais. A mangaba pode ser encontrada o ano todo, mas principalmente entre os meses de outubro e abril.

Rica em fibras e vitaminas A, B1, B2 e C, a mangaba auxilia no controle a pressão arterial, o que é uma boa indicação para a dieta de quem sofre com hipertensão, e também ajuda a regular o índice glicêmico e os níveis de colesterol, além de minerais como fósforo, cálcio e ferro.

domingo, 17 de outubro de 2021

Funcionais, nutracêuticos, probióticos, prebióticos e simbióticos


As medicinas tradicionais, complementares e integrativas são promovidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde o início deste século. O objetivo é oferecer tratamento integral centrado no paciente, com o cuidado de humanizar o atendimento e levar em conta o indivíduo como um todo, incluindo os diversos elementos do estilo de vida e saúde da família.

No Brasil, já há uma legislação específica que permite o uso de práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo nosso país reconhecido pela Organização Pan-Americana da Saúde como um dos que acatam, protegem e promovem estudos sobre medicina integrativa.

Hoje, sabe-se que a população tem uma expectativa de vida maior e isso está acompanhado de um grande crescimento dos custos médico-hospitalares. Há necessidade de se desenvolver novos conhecimentos científicos e de novas tecnologias que possam resultar em modificações importantes no estilo de vida das pessoas.

A nutrição também precisa se adaptar a esses desafios. Novos conceitos devem ser elaborados. As funções fisiológicas têm que ser maximizadas. Uma nutrição mais qualificada poderá assegurar melhor saúde e risco mínimo de doenças aparecerem no decorrer da vida.

Como representantes dessa nutrição, destacam-se os alimentos funcionais, nutracêuticos, probióticos, prebióticos e simbióticos.

Alimentos funcionais

Alimentos funcionais são aqueles que, além de fornecerem a nutrição básica, promovem a saúde, pois contêm nutrientes que podem auxiliar, por exemplo, na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos, na proteção das células contra os radicais livres, no funcionamento do intestino, na redução da absorção do colesterol.

São encontrados na forma de alimento comum e consumidos como parte da dieta.

Dessa forma, pode-se dizer que apresentam as seguintes características: são alimentos convencionais e consumidos na dieta normal, possuem valor nutritivo básico e promovem benefícios à saúde, reduzindo o risco de que o consumidor possa contrair doenças.

É necessário que o consumo desses alimentos seja regular, a fim de que seus benefícios sejam alcançados. Devem demonstrar os seus efeitos fisiológicos em quantidades normalmente consumidas numa dieta regular, variada e equilibrada.

Indica-se maior uso de vegetais, frutas e cereais integrais, já que grande parte dos componentes ativos estudados encontra-se nesses alimentos.

Não são cápsulas nem comprimidos nem qualquer outra forma de suplemento alimentar. A esses compostos fisiologicamente ativos atribui-se a designação de ingredientes funcionais.

A tabela a seguir mostra alguns dos compostos funcionais mais investigados pela ciência e frequentemente encontrados no cardápio do brasileiro.

COMPOSTOS FUNCIONAIS INVESTIGADOS PELA CIÊNCIA


Alimentos nutracêuticos

O nutracêutico, em si, não é um alimento, mas um produto que contém alguns componentes alimentares funcionais isolados. Os nutracêuticos retiram dos alimentos funcionais os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo.

Exemplo: do leite tira-se o cálcio, que quando purificado é colocado de maneira medicinal – em comprimidos, pílulas ou outras formas farmacêuticas.

Isso significa que eles são produtos que retiraram dos alimentos naturais os ingredientes biologicamente ativos como vitaminas para suplementar a dieta normal.

A diferença entre eles e os funcionais é que são usados para prevenção e tratamento de doenças, enquanto os funcionais agem reduzindo o risco da doença.

Os nutracêuticos incluem suplementos dietéticos e outros tipos de alimentos, enquanto os alimentos funcionais precisam estar na forma de um alimento comum.

Exemplos de alimentos nutracêuticos: glucosamina, óleo de linhaça, de peixe e de alho, spirulina, colágeno, licopeno, astaxantina, semente de uva e quitosana.

É importante ressaltar que os compostos bioativos, isolados dos alimentos funcionais, estão nos alimentos nutracêuticos em forma de cápsulas, comprimidos, sachês ou pós. Nunca assumem a forma de alimento. Esses ingredientes proporcionam benefícios para a saúde, incluindo prevenção e/ou tratamento de doenças.

Um exemplo de nutracêuticos que merece ser destacado são as gorduras poli-insaturadas conhecidas como “gorduras boas”, essenciais para a saúde: ômega 3 e ômega 6.

O organismo humano não produz essas gorduras sozinho. Quando ingeridas, vão ajudar na manutenção da estrutura das células e do sistema nervoso, na diminuição da fração LDL do colesterol e no aumento do HDL. Junto com a vitamina D, têm efeito anti-inflamatório e imunomodulador. Contribuem para maior rendimento nos exercícios físicos e melhor recuperação muscular. Proporcionam bem-estar ao indivíduo que as consome.

Dentre os alimentos que possuem grande quantidade dessas gorduras, destacam-se os peixes. Entre eles, sardinha e salmão são os que mais possuem ômega 3. Mas é justamente o consumo de sardinha que tem o melhor custo-benefício: enquanto um quilo de salmão custa em torno de 50 reais, um quilo de sardinha fica em torno de 7 reais.

A quantidade de ômega 3 em 100 gramas de sardinha é quase três vezes maior que aquela existente em 100 g de salmão. Além disso, a sardinha tem grande quantidade de cálcio e de vitamina D, além de oferecer proteínas como a carne vermelha.

Os veganos também costumam comer alimentos ricos em ômega 3: sementes de chia, sementes de cânhamo, sementes de abóbora, óleos de soja e canola, algas e microalgas, amêndoas e nozes e leguminosas como feijão, soja, ervilha, etc.

Alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos

O trato gastrintestinal possui uma microbiota enorme e graças a isso desempenha importantes funções fisiológicas, a menos que microrganismos prejudiciais e potencialmente patogênicos passem a ter presença dominante no mesmo. Para que a microbiota intestinal seja bem equilibrada, é necessário que se suplemente a dieta com probióticos, prebióticos e simbióticos.

Nos últimos anos, o uso dos alimentos funcionais passou a se concentrar nos aditivos alimentares que possuem efeitos benéficos sobre a composição da microbiota intestinal. Os prebióticos e os probióticos são os principais aditivos alimentares usados para esse fim.

Na figura abaixo, estão esquematizadas as reações desses ingredientes alimentares (probióticos e prebióticos) com a microbiota intestinal e seus efeitos sobre a saúde.

Fonte: Development of functional ingredients for gut health.
Autores: R. Puupponen-Pimiã e outros – 2002

ALIMENTO PROBIÓTICO – é um produto rico em bactérias intestinais, como os lactobacilos e bifidobactérias, que causam efeitos positivos para a saúde.

Dentre os principais alimentos probióticos destacam-se o chucrute, coalhada, iogurte, kefir, kimchi (prato típico coreano), kombucha, leite fermentado, missô, shoyo e queijo.

Os lacticínios probióticos, em especial, são disponíveis comercialmente, sendo que a variedade desses produtos continua em expansão.

As bactérias presentes nesses alimentos passam pelo estômago sem sofrer danos e chegam vivas ao intestino, onde suas colônias agem inibindo o crescimento de bactérias patogênicas.

Dessa forma, quando existe um consumo regular de probióticos, as bactérias boas vão proteger a microbiota intestinal, ajudando no seu equilíbrio e assim evitando a absorção de substâncias tóxicas e inflamatórias.

Proporcionam diversos benefícios para a saúde.
Fortalecimento do sistema imunológico contra gripes e resfriados
Prevenção e combate a problemas intestinais, como prisão de ventre e diarreia
Controle de reações alérgicas
Redução na absorção de colesterol e glicose
Redução da pressão arterial
Auxílio em processos de emagrecimento
Aumento da tolerância à lactose
Prevenção de infecções genitais femininas, como candidíase
Controle de espinhas e acne
Melhora de sintomas de depressão e ansiedade
Prevenção e combate da síndrome do intestino irritável, síndrome de Crohn, doença inflamatória intestinal e colite ulcerativa
Inibição do crescimento de tumores no intestino e região do cólon retal.

Esses alimentos devem permanecer com algumas características inalteradas após a adição do microrganismo para serem considerados probióticos, como, por exemplo, conter pelo menos 107/g de bactérias probióticas viáveis no momento da compra do produto. É a concentração recomendada por diversos autores para ter importância fisiológica para o consumidor.

Do ponto de vista de segurança no uso desses alimentos, diversos estudos controlados sobre lactobacilos e bifidobactérias não revelaram efeitos maléficos causados por esses microrganismos. Já os efeitos benéficos são inúmeros. Mais especificamente em crianças, foi mostrado que a sua utilidade é grande na estabilização da barreira da mucosa intestinal, tanto na prevenção da diarreia como no tratamento de diarreia associada ao uso de antibióticos.

ALIMENTOS PREBIÓTICOS – são fibras e outros componentes não digeríveis derivados dos carboidratos que contribuem para o desenvolvimento das bactérias benéficas que habitam o intestino. Pode-se dizer que eles são o alimento dos probióticos, favorecendo o seu crescimento e prolongando os efeitos positivos que eles conferem.

A oligofrutose possui propriedades similares às do açúcar e do xarope de glicose, apresentando 30% a 50% do poder adoçante e maior solubilidade que o açúcar. É frequentemente empregada em conjunto com edulcorantes de alto poder adoçante, para substituir o açúcar, resultando em um perfil adoçante bem balanceado.

Já a inulina é constituída de cadeias longas e é menos solúvel que a oligofrutose. Quando dispersa na água ou no leite, forma microcristais que interagem para dar origem a uma textura cremosa. Daí o fato de ser empregada como substituto de gordura em produtos lácteos, patês, molhos, recheios, coberturas, sobremesas congeladas e produtos de panificação.

Exemplos de alimentos ricos em prebióticos: algas marinhas, alho, alho-poró, aspargo, aveia, banana verde, batata yacon, cacau, cebola, cevada, dente-de-leão, farelo de trigo, maçã, raiz de chicória e semente de linhaça.

Em sua maioria, esses alimentos oferecem boas quantidades dos principais prebióticos conhecidos, como a inulina, os fruto-oligossacarídeos (FOS) e os galacto-oligossacarídeos (GOS). Essas substâncias não são digeridas pelo estômago, mas sim pelos microrganismos probióticos que estão no intestino. A principal função desses microrganismos é promover a digestão dos alimentos por meio da fermentação.

Do ponto de vista do uso continuado e até em doses superiores às recomendadas, não se detectaram evidências de toxicidade, carcinogenicidade ou genotoxicidade. Como no caso dos demais tipos de fibra, o consumo de quantidades excessivas de prebióticos pode resultar em diarreia, flatulência, cólicas, inchaço e distensão abdominal, sintomas que podem ser revertidos com a interrupção da ingestão.

ALIMENTO SIMBIÓTICO – produto que contém probióticos e prebióticos ao mesmo tempo, combinando seus efeitos benéficos para o organismo. Assim, alimentos simbióticos oferecem tanto os microrganismos bons (probióticos) quanto o seu alimento (prebióticos), promovendo uma sinergia que supera os efeitos positivos isolados. Proporcionam benefícios além da nutrição, favorecendo a saúde e o controle de doenças.

Entre os alimentos simbióticos, destacam-se iogurtes, leites fermentados, bebidas lácteas, sucos e biscoitos que combinam quantidades adequadas de um probiótico e seus respectivos prebióticos (por exemplo: um iogurte com bifidobactérias e galacto-oligossacarídeos).

Em consequência, os alimentos simbióticos ampliam ainda mais os benefícios dos probióticos, incluindo a inibição do crescimento de bactérias causadoras de doenças, o fortalecimento do sistema imunológico, a diminuição da atividade inflamatória e o aumento da absorção de nutrientes como cálcio, magnésio e ferro.

Os estudos para a produção de novos ingredientes para alimentos otimizados que promovem a saúde do hospedeiro pelas reações microbianas no intestino continuam. Ainda há muito a descobrir sobre a interação entre os compostos vegetais não-digeríveis, seus metabólitos intestinais, a microbiota intestinal e o hospedeiro.

FONTE

Dr. Ary Lopes Cardoso – Pediatra e médico responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

sábado, 2 de outubro de 2021

Carência Nutricional


Como sei que meu filho está com falta de algum nutriente?

Se a alimentação da criança não está boa, pode acontecer uma carência nutricional e prejudicar o crescimento e o desenvolvimento dela. Entenda!

Toda criança precisa de algumas coisas para se desenvolver bem: sono de qualidade, brincar ao ar livre, se movimentar, ter interação e afeto com outras pessoas, uma alimentação equilibrada. E para essa alimentação ser equilibrada e com qualidade, deve ser rica em nutrientes. Isso porque nosso corpo não é capaz de produzi-los (com exceção da vitamina D), logo, eles vêm do que nós ingerimos, ou seja, dos alimentos. “O único que pode ser sintetizado no nosso organismo é a vitamina D: uma substância chamada Colecalciferol, que fica “adormecida” na nossa pele, é despertada pelo sol. E através dele e dos raios UVB/UVA, essa substância é transformada em uma forma ativa, a Vitamina D. De resto, precisamos trazer todos os nutrientes da alimentação”, explica a pediatra Paula de Paula Gomes, de Ribeirão Preto (SP), especialista em Introdução Alimentar e Amamentação.

Os nutrientes se dividem em micro (vitaminas e sais minerais) e macronutrientes (carboidrato, lipídeos e proteína). Mas, então, quais são os principais nutrientes para a criança se desenvolver bem? “Todos são importantes, porém cabe destaque para ferro, zinco, cálcio, vitamina D e vitamina A. Esses nutrientes estão relacionados diretamente ao crescimento, desenvolvimento cerebral, saúde dos olhos e dos ossos, sistema imune”, afirma a nutricionista infantil Veridiane Sirota, de Curitiba (PR), especialista em Saúde da Família.

Com uma alimentação bem diversificada é possível alcançar a quantidade necessária de todos os nutrientes. Porém, cabe destacar, que existe uma medida de suplementação preventiva, independente do consumo alimentar estar adequado ou não. A Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza a suplementação das vitaminas A e D e também de ferro até 2 anos de idade para as crianças nascidas a termo. Já os prematuros necessitam também de suplementação de zinco e doses maiores de ferro se o peso de nascimento for mais baixo. “A suplementação dos ácidos graxos essenciais DHA e ARA (Ômega 6 e Ômega 3 de cadeia longa) também são fundamentais para o crescimento cognitivo, desenvolvimento da visão e do sistema imunológico”, diz a pediatra e nutróloga Débora Passos, do Hospital e Maternidade Pro Matre, em São Paulo (SP).






E quando falta?

Se a alimentação não está boa ou há alguma predisposição, pode acontecer uma carência nutricional e isso pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. O período de maior desenvolvimento cerebral acontece a partir do terceiro trimestre de gestação até os dois anos de vida (primeiros mil dias). “No primeiro ano, o cérebro ganha de 350 a 700g, o que representa cerca de 25 a 50% do peso de um adulto. Já no segundo ano, o ganho está entre 700 e 950g, sendo em torno de 50 a 68% do peso de um adulto. Portanto, nos primeiros mil dias de vida da criança é fundamental que a oferta de nutrientes seja adequada, pois deficiências podem afetar habilidades cognitivas e aumentar o risco de doenças crônico-degenerativas a longo prazo”, afirma Débora Passos.

A nutricionista Veridiane Sirota cita alguns exemplos práticos também, como a falta de ferro que predispõe a anemia, repercute em atrasos neurológicos e diminuição do apetite. “Falta de vitamina B12 gera cansaço fácil, falta de concentração, formigamento de mãos e pés. Falta de zinco é considerada um dos fatores de risco mais determinantes do déficit de crescimento em crianças”, complementa.

É por isso, inclusive, que a amamentação é tão importante. O aleitamento exclusivo até os seis meses oferece todos os nutrientes necessários para um crescimento saudável, como vitaminas, minerais e oligoelementos. Além disso, transfere anticorpos da mãe para o bebê que o protegem até que seu sistema imunológico tenha a capacidade de fazer isso sozinho.

Mas calma, se por algum motivo você não conseguiu ou não pode amamentar, as fórmulas modernas buscam se aproximar ao máximo do leite materno e suprem as necessidades de nutrientes para cada faixa etária. Crianças alimentadas com fórmulas e bem acompanhadas pelo pediatra se desenvolvem sem deficiências nutricionais.

Como saber, então, se meu filho tem falta de nutrientes? Há alguns sinais clínicos, sendo os mais conhecidos unhas quebradiças, cabelo caindo, sono em excesso, falta de apetite, a vontade de comer coisas “estranhas”, como reboco de parede e terra. “A falta de vitamina A também dá sinais, como olho seco, por exemplo. Esses sinais clínicos e uma boa consulta médica são capazes de conduzir à suspeita. Para completar essa investigação, existem os exames laboratoriais que irão quantificar essas deficiências”, explica a pediatra Paula de Paula Gomes. Há alguns exames que o médico pode pedir preventivamente, como após 1 ano de idade para triar anemia, níveis de ferro, ferritina e vitamina D.

A pequena Maressa, 2 anos, não estava querendo comer há três semanas e sua mãe, a contadora Tassia Menezes, 28 anos, achou que fosse seletividade alimentar e marcou consulta com uma nutricionista. Ela suspeitou, pediu exames e foi constatada deficiência de ferritina e vitamina B12. Ela está fazendo a suplementação e, após duas semanas, já está comendo bem melhor, até melhor que antes, segundo a mãe. “Após a consulta com a nutricionista fomos ao pediatra e vimos que essa falta de apetite da Maressa se refletiu no peso, ela havia emagrecido 1 kg. Então agora com os suplementos já é perceptível a melhora do apetite e já recuperou um pouco”, diz.

Precisa suplementar?

A Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza suplementação de vitamina D para recém-nascido a termo, desde a primeira semana de vida até dois anos de idade, mesmo que em aleitamento materno exclusivo ou fórmula infantil. Em regiões com alta prevalência de deficiência de vitamina A, a OMS, o Ministério da Saúde e a SBP indicam a suplementação.

Para prevenir a deficiência de ferro, a SBP orienta que a suplementação com ferro deve ser iniciada aos 3 meses de idade e mantida pelo menos até o segundo ano de vida. A dosagem de ferro varia conforme o peso ao nascer, idade gestacional ao nascer e consumo de fórmula infantil.

“Após 2 anos de idade não há suplementação que seja obrigatória, cabendo ao profissional de saúde avaliar como está a ingestão de nutrientes via alimentação; avaliar sinais e sintomas de possíveis carências nutricionais; avaliar exames laboratoriais para diagnosticar possíveis deficiências nutricionais e planejar o tratamento adequado”, orienta Veridiane Sirota.

Cada nutriente possui uma quantidade adequada a ser consumida por dia, que varia conforme a idade, o que pode conduzir como será o aporte fornecido via suplementação, que pode ser via oral ou injetável, de acordo com a necessidade do caso. O tempo de suplementação depende do grau de insuficiência do nutriente e da resposta ao tratamento iniciado.


Onde encontrar os nutrientes

Veja alguns exemplos de quais alimentos você pode dar ao seu filho.
  • Vitamina B12: é encontrada apenas em alimentos de origem animal, como carnes e laticínios.
  • Vitamina D: é encontrada em especial em laticínios e carnes, mas também conseguimos produzir através do contato da pele com os raios UVB.
  • Vitamina C: encontrada em grande parte das frutas e verduras.
  • Zinco: carnes em geral, leguminosas, cereais integrais, nozes.
  • Vitamina E: azeite de oliva, óleos vegetais, amêndoas, avelãs, cereais, gordura animal, gema de ovo, manteiga, sementes.
  • Vitamina K: vegetais verdes folhosos, tomate, espinafre, couve-flor, repolho, morango, batata.
  • Vitamina A: fígado bovino, cenoura, mamão, batata doce, abóbora, laticínios.
FONTE

https://revistacrescer.globo.com/Alimentacao/noticia/2021/04/como-sei-que-meu-filho-esta-com-falta-de-algum-nutriente.html