sábado, 22 de setembro de 2007

Neem ou Nim


Um dos maiores plantios de nim do Brasil fica no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. São 50 mil árvores, de várias idades. Essa fazenda também fabrica produtos à base de nim. E lá, até quem não tem pinta de agricultor resolveu investir no negócio... 

Música urbana no Vale do Jequitinhonha. E no meio de uma plantação de nim. Estamos no município de Itinga, Minas Gerais, com Henrique Portugal, músico da banda Skank, que nas horas de folga também é produtor dessa árvore. 

Globo Rural: Henrique, seus fãs sabem desse seu lado? 

Henrique: Não. Não sabem, não. Eu acho que isso é uma novidade para eles. Mas isso tem tudo a ver com a minha história. Sou neto de marceneiro e a primeira relação com o nim era por causa da madeira, que é uma madeira muito nobre, conhecida na Europa. Eu já comprei coisa na Inglaterra, já comprei na Dinamarca, já comprei nos Estados Unidos. 

Globo Rural: E como é que você se convenceu de que o nim seria a planta ideal para você cultivar? 

Henrique: Eu comecei a usar em casa. Eu moro numa área um pouco afastada de Belo Horizonte e tinha uma horta lá, uns pés de laranja, mexerica. Foi aí que eu comecei a ter certeza que funcionava. Começando a usar em casa para controlar pulgão, algumas coisas que apareciam lá. Se deu certo em casa, vai dar certo fora de casa também. 

Com essa certeza, Henrique resolveu botar dinheiro no negócio do nim. Se uniu a Victor Janot e Sueli Rodrigues, dois empresários de Belo Horizonte que largaram tudo na cidade grande por acreditar no potencial dessa árvore. E formaram um dos maiores bosques de nim de Brasil. 

Como teste, eles escolheram o pior terreno para fazer o plantio das primeiras três mil mudas da propriedade. "Essa área [escolhida] da fazenda é uma área de solo lavado, terreno de baixos, baixa produção, praticamente nem capim saía, nem mato saía. Eu falei 'eu vou plantar essas árvores nesse pedaço de terra porque eu quero ver o resultado'. Hoje você já tem capim, mato saindo, enfim, você já tem uma vida nascendo do solo". 

O clima quente e o solo arenoso do Vale do Jequitinhonha agradaram a planta, que também gosta de luminosidade alta e pouca variação térmica. O resultado foi uma produção precoce: enquanto em muitos lugares do mundo a primeira safra ocorre entre o quinto e o sétimo ano, no Jequitinhonha ela frutifica até o terceiro ano após o plantio. 

Essas boas condições vão fazer com que, neste ano, sejam colhidas cem toneladas na região - 50 de folhas e 50 de frutos. 

Enelino Santos Gonçalves, trabalhador rural: Essa árvore quanto mais corta, melhor para ela. 

Globo Rural: Por quê, hein? 

Enelino: Porque ela cresce mais o tronco e produz mais fruto, mais folha. 

Em dez anos de trabalho com o nim, os proprietários transformaram a fazenda num verdadeiro campo experimental: plantios em épocas diferentes, espaçamentos diferentes e colheita o ano todo. Tudo para conseguir a maior quantidade de azadiractina nas folhas e nos frutos. 

Globo Rural: Deu muito trabalho, Sueli? 

Sueli Rodrigues, agrônoma: Deu, mas no final do sétimo ano a gente chegou nesse ensaio, que é um espaçamento que é correto para o nosso empreendimento, que é 2 X 3, onde a gente vai conseguir obter uma quantidade grande de folhas e de frutos e estar cortando madeira por volta de dez, 12 anos. 

Globo Rural: Agora, e por que fazer tantos ensaios na propriedade? 

Sueli: Você tem que investir muito em pesquisa porque a gente tinha que adequar o nosso empreendimento a essa região. 

Globo Rural: E os próximos plantios vão repetir o que foi feito? 

Sueli: Nós vamos repetir isso que nós fizemos em pequena escala em grande escala. 

Num hectare o experimento rendeu duas toneladas: uma de folhas e outra de frutos. Um resultado significativo frente a terrenos que apresentaram pouco de 20% dessa produção. E os novos plantios já começaram, por exemplo, numa área onde se respeitou o mesmo espaçamento do talhão experimental mais produtivo. 

No Jequitinhonha, os plantios não apresentam problemas com formiga. Como trato cultural, o pessoal faz a limpeza da cova duas vezes ao ano e aproveita para dar um reforço de farinha de osso calcinado e compostagem de capim com esterco. "Ela responde muito bem, principalmente para produção de fruto", comenta Victor. 

Até meados de 2008, o número de árvores de nim na propriedade deve triplicar com o plantio de outras cem mil mudas. 

Victor: O mercado vem crescendo de uma forma geométrica e a gente está até correndo contra o tempo porque a demanda vem aumentando muito de ano a ano. 

Globo Rural: Até agora vocês já investiram quanto nesse trabalho? 

Victor: Aproximadamente R$ 3 milhões. 

Globo Rural: Já tiveram o retorno desse dinheiro? 

Victor: Não. A gente espera começar a ter um retorno nos próximos três anos de todo investimento feito. 

Depois de colhidos, os galhos de nim são levados para um barracão. Os ramos ainda verdes são pendurados e ficam até secar. Daí, as mulheres entram em ação. "Tem que pegar os galhos e ir tirando sementinha por sementinha. Não pode deixar nada", diz a trabalhadora rural Vanésia Antonio Santos. 

E derriçam as folhas. 

Globo Rural: E você gosta desse trabalho? 

Maria Romilda: Gosto. 

Globo Rural: Por quê, hein? 

Maria Romilda: Uai, porque é o lugar que a gente ganha mais. Aqui não tem outro trabalho para a gente trabalhar. 

Andreia Aparecida Soares Silva: É o único serviço para mulher que tem é aqui. 

Jaqueline Soares Silva: antes de ter esse nim a gente não trabalhava. A gente ficava na casa da gente. Agora tem o nim e a gente trabalha. 

Globo Rural: Quanto você tira? 

Maria Romilda: Trabalha por dia: R$ 10,00. 

Enquanto as folhas já podem ser trituradas, os frutos continuam secando. Primeiro ao sol e, depois, à sombra. 

Toda produção é orgânica e leva o selo da Ecocert, uma entidade suíça reconhecida no Brasil, no Japão, Estados Unidos, Canadá e Europa. 

Das sementes do nim é que se extrai o óleo, um dos produtos que prometem se tornar uma riqueza do Vale do Jequitinhonha. "Eu sou privilegiada porque eu aos 40 anos estou fazendo o que eu queria fazer na minha vida. Se eu pudesse teria feito dez anos antes", garante Sueli. 

Globo Rural: E as pessoas, familiares, amigos, acreditaram nesse projeto no início? 

Victor: No início, eu acredito que nós fomos às vezes motivo até de chacota. 

Sueli: As pessoas não acreditavam nisso de jeito nenhum. Achavam que era coisa de executivo estressado que estava querendo fazer uma coisa muito nova, diversificar, mas se não der em nada continua sendo executivo. 

Globo Rural: E tem desafio ainda pela frente? 

Sueli: Ainda tem muito trabalho pela frente. E ainda muito que estudar, muito que se preparar para poder fazer porque a gente conhece até onde a gente chegou. Amanhã a Deus pertence. 

E a vida levou Henrique a apostar num campo bem diferente do seu dom artístico. "São duas coisas, como elas são muito distintas, eu acho que é fácil conciliar tanto a música quanto a produção. Dá um certo trabalho, mas eu diria que é com bom gosto, com bom grado conseguir fazer duas coisas que realmente eu gosto muito. 

Globo Rural: Os fãs da música podem ficar despreocupados? 

Henrique: Tranqüilíssimos. 

Globo Rural: E os fãs do nim? 

Henrique: Eu espero que os fãs do nim cresçam porque realmente é uma coisa muito interessante. 

A maioria dos usos do nim que vimos na reportagem faz parte da tradição secular do povo indiano. Mas é bom lembrar que novos empregos para as lavouras e os animais precisam ser devidamente testados.



fonte

http://www.mnp.org.br/?pag=ver_noticia&id=403821

http://nitroimagens.photoshelter.com/image/I00006oE3qjNTQEI

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