sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pau-brasil


Há 509 anos o Brasil foi descoberto e recebeu o nome de uma árvore. Importante no passado e ameaçado de extinção, o pau-brasil ainda pode revelar muitas riquezas. Com folhas miúdas, vagens e o tronco cheio de espinhos, o pau-brasil pode atingir até 30 metros de altura e é dono de uma façanha única no mundo: nenhuma outra árvore batizou uma nação. As flores duram apenas dois dias e o miolo é cor de brasa, daí o nome Brasil.

O corante extraído do pau-brasil era disputado como ouro em pó pelos colonizadores. Os nobres da época usavam o vermelho intenso para tingir roupas e produzir tintas para escrever. O pau-brasil virou símbolo de poder e riqueza.

Pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriram nas sementes do pau-brasil protéinas com propriedades antiinflamatórias e anticoagulantes para serem usadas no tratamento de doenças como psoríase (inflamação na pele) e o mal de Alzheimer.

Uma proteína chamada CeKI já provou, segundo os pesquisadores envolvidos no projeto, ser capaz de inibir a produção de enzimas, como a calicreína, envolvidas com o mal de Alzheimer.

Já se conhece o uso medicinal das folhas, da casca e da madeira do pau-brasil, mas a pesquisa com as sementes começou em 2000 e é realizada pelo grupo da Unifesp.

Quatro séculos de superexploração do pau-brasil quase levaram um dos símbolos do país à extinção e ao desconhecimento pela população. Agora uma nova frente de utilização se delineia – e, desta vez, de forma sustentada. Moléculas da planta estão em estudo para que um dia sejam usadas para tratar doenças, sem que uma árvore sequer seja cortada.

O machado e o fogo de antigamente foram substituídos, no século 21, por técnicas muito mais delicadas, como a cromatografia líquida e a eletroforese em gel –métodos bastante usados para separar misturas e moléculas em laboratórios.

A matéria-prima é a semente do pau-brasil. Nas mãos de cientistas, essa pequena estrutura, de apenas um centímetro de diâmetro, pode servir de base para futuros tratamentos médicos. Estão envolvidos nesse grupo pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina da Santa Casa.

Madeira ainda vira arco de violinos

Cavacos de madeira vermelha no chão denunciam que em uma pequena oficina na zona oeste de São Paulo o pau-brasil é a matéria-prima. Eles são restos de ripas transformadas pelas mãos habilidosas do arqueteiro Daniel Lombardi em arcos para instrumentos de cordas, usados por músicos de todo o país.

Desde o século 18, a madeira do pau-brasil é considerada a mais adequada para a produção do objeto. Ela apresenta características ideais para a finalidade: estabilidade, plasticidade quando aquecida – parte do processo de manufatura –, beleza, cor, textura e bom comportamento na hora de fazer vibrar as cordas do instrumento.

Essa é atualmente a única aplicação comercial em larga escala da árvore-símbolo do Brasil. Sua utilização na arquetaria mundial ajudou a colocá-la na lista de espécies ameaçadas de extinção, somada à exploração intensiva dos europeus durante 400 anos para ser usada como corante na indústria têxtil. Hoje, seu corte depende de autorizações especiais.

Lombardi tem uma tora de 70 metros cúbicos adquirida antes das limitações de derrubada. Como o uso é racional – ele não descarta imediatamente uma ripa por causa de um nó, por exemplo, como fazem alguns arqueteiros puristas –, e sua produção de três arcos por mês em média, ele não prevê a compra de mais madeira. “Um metro cúbico dá para uma vida”, diz. Cavacos e lascas que sobram são recolhidos e aproveitados por um artesão.

Todos os estudos estão em fase inicial e precisam ser aprimorados, tanto para detalhar a eficiência quanto a segurança de sua utilização. Um longo caminho precisa ser percorrido entre o fim das pesquisas e a sua aplicação real, mas os resultados são promissores. Os pesquisadores já sabem, por exemplo, que uma proteína chamada CeKI apresenta propriedades anticoagulantes e antiinflamatórias. Em testes de laboratório, in vitro e em ratos, a CeKI ajudou na prevenção de coágulos. A proteína também foi eficiente no controle da dor e da inflamação em pelo menos um caso – contra o veneno de um peixe encontrado no Nordeste chamado niquim.

A CeKI será agora testada no tratamento do mal de Alzheimer, já que atua como inibidor de uma enzima envolvida na doença, a calicreína. A psoríase (inflamação na pele que provoca escamação) é outra doença que está na mira dos cientistas.

Outro composto também tirado da semente, a proteína CeEI, reduziu edemas pulmonares em coelhos, quando ocorrem inchaço e acúmulo de líquidos nos pulmões. “Esperamos que essas moléculas sejam úteis em tratamentos”, afirma Mariana da Silva Araújo, da Unifesp. “E esperamos ser capazes de reproduzir o composto sem que seja necessário retirá-lo da semente, para não agredir a natureza.” Nesse sentido, o gene da proteína CeKI já foi clonado, em um passo importante para sua síntese.

Degeneração dos neurônios e inflamação na pele estão entre os problemas de saúde para os quais a planta pode oferecer uma esperança de cura.

Corrente com a iniciativa dos pesquisadores de São Paulo, uma equipe da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) relatou, há dois anos, que a brasileína – forma oxidada da substância tirada do cerne do pau-brasil aplicada como corante – inibiu em 87% o desenvolvimento de câncer em camundongos. E, na década de 1980, uma pesquisa mostrou que o pó do tronco apresenta propriedades anti-sifilíticas.

As novas perspectivas de exploração do pau-brasil investigadas pela ciência se beneficiam da cultura popular. Na medicina do povo, o pó da casca é usado como antidiarréico e amenizador de cólicas menstruais. O chá das folhas combate diabete. Nada ainda com comprovação científica, tudo a ser explorado pelos pesquisadores brasileiros interessados.

Por meio de um projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que terminou em 2005, um conjunto de dados foi obtido em instituições privadas e particulares. Ele acaba de ser condensado no livro Pau-brasil, da semente à madeira, editado pelo Instituto de Botânica e pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e publicado pela Imprensa Oficial do Estado. “É uma forma de devolver à população o conhecimento sobre o pau-brasil, para quem tem o interesse em conhecê-lo e cultivá-lo”, explica a organizadora, Rita de Cássia Ribeiro.

Cientistas de outras áreas, como a botânica, avançam no entendimento sobre a árvore. A intenção não é apenas desvendar um símbolo da história do país, mas garantir sua sobrevivência, para que futuras gerações tenham contato com a planta que deu origem à palavra “brasileiros”.

O pau-brasil tem a comercialização restrita por uma convenção internacional, a Cites, e está na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção. Mesmo com essas limitações, se depender dos cientistas, ele em breve voltará a ser reconhecido por quem carrega seu nome.

A árvore de pau-brasil alcança de 10 a 15 metros. Alguns historiadores afirmam que o corte do pau-brasil para a obtenção de sua madeira e resina (extraída para uso como tintura em manufaturas de tecidos de alto luxo) foi a primeira atividade econômica dos colonos portugueses na recém-descoberta Terra de Santa Cruz, no século XVI. Até 1530, a árvore foi o único produto retirado da colônia.

Do litoral do Rio Grande do Norte até a costa do Rio de Janeiro, o pau-brasil era a árvore dominante na Mata Atlântica Brasileira. Atualmente, o pau-brasil está ameaçado de extinção.

O Instituto Casa do Pau Brasil (ICPB) lançou, em março de 2010, o projeto Meu Querido Pau Brasil com o objetivo de promover o plantio de um milhão de mudas de pau brasil e de outras espécies nativas dos biomas brasileiros.

Dividido em quatro etapas, o projeto está na terceira fase, com previsão de plantio de 100 mil mudas até 3 de maio de 2011, quando comemora-se o Dia do Pau Brasil.

O instituto promove atividades de educação socioambiental que incluem plantios de árvores e sensibilização através de oficinas, exposição, filmes e palestras, envolvendo crianças, jovens e adultos.

Mais informações sobre o projeto em http://www.meuqueridopaubrasil.org/

FONTE

http://www.corposaun.com/alzheimer-pau-composto-contra-doenca/4881

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=816909&tit=Pau-brasil-e-testado-como-medicamento-para-Alzheimer

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