sábado, 7 de junho de 2008

Pouco sono, muita fome


Dormir menos e mal pode ter efeito sobre os hormônios do apetite, sendo um fator de risco para a obesidade. E não é só isso: a sucessão de noites em claro também aumenta a incidência de diabetes, depressão, problemas de memória e até câncer, além de provocar alteração sexual
por Gabryel Weikamp

Ter uma boa noite de sono e acordar bem é um sonho distante para muita gente. E a quantidade de horas do repouso noturno tem muito a ver com isso, respeitadas as diferentes necessidades de cada indivíduo. Considera-se que um ser saudável precisa dormir entre seis e oito horas por noite, mas há quem necessite de 11 horas tranqüilas de sono e pessoas que se contentam com apenas quatro.

Mas uma coisa é certa: um sono reparador ajuda a manter a silhueta em forma, fortalece o corpo, desperta a criatividade e o raciocínio, faz bem ao coração e também rejuvenesce. Já algumas noites em claro podem causar graves problemas de saúde, como depressão, falta de memória, câncer, e até trazer uns quilinhos a mais.

É o que mostra uma das pesquisas mais reveladoras dos últimos tempos, que estabelece uma relação entre a falta de sono e o ganho de peso. Durante o repouso ideal, a leptina (hormônio da sa- ciedade) aumenta, enquanto a produção de grelina (o hormônio da fome) diminui. A médica Lia Rita Bittencourt, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que há um de- sequilíbrio na liberação dessas substân- cias e um acúmulo de tecido adiposo, também conhecido como tecido gordo. Segundo ela: "A falta de sono prejudica o metabolismo e a secreção de hormônios relacionados ao apetite".

Para confirmar tal tese, médicos de uma universidade americana avaliaram mais de 70 mil mulheres durante 16 anos. Do total, metade dormia mal e não ultrapassava cinco horas diárias de sono, enquanto a outra metade dormia em média sete tranqüilas horas. O resultado: as mulheres do primeiro grupo engorda- ram 15 quilos no período, um ganho de peso 30% maior que do segundo gru- po.

A explicação para o número assusta- dor são as noites em claro. "Uma noite maldormida gera estresse no organismo incorrendo na alta produção de cortisol, que incha, engorda e envelhece. Além disso, a fabricação de grelina diminui, gerando armazenamento de gordura", afirma o endocrinologista Tércio Rocha, especialista em obesidade e membro da Sociedade Brasileira de Medicina Antienvelhecimento.

Alterações hormonais
A falta de sono modifica, ainda, o ci- clo circadiano dos hormônios, é motivo de irritabilidade, alteração sexual, enve- lhecimento precoce e a causa de alguns acidentes de trânsito. Tantos problemas levam a pensar que uma noite em que se sonha com os anjos faz um bem da- nado. "Para quem ainda não se conven- ceu, a insônia pode acarretar alterações hormonais, além de gerar grande ansie- dade. Esta, por sua vez, é traduzida por um descontrole compulsivo do comer levando ao aumento do consumo de guloseimas e outros alimentos nocivos à saúde. Ao que tudo indica, a falta de sono é um fator de risco para a obesi- dade tão grande quanto os maus hábi- tos alimentares", justifica Rocha.

Qualidade de vida
Para se ter idéia, uma pessoa que dorme sete horas e consome 2.500 ca- lorias durante as 17 horas restantes do dia pode reduzir 147 calorias dormindo uma hora a mais, em vez de ver tele- visão, por exemplo. Tal diminuição do número de calorias resultaria na perda de seis quilos em um ano. Realmente, uma perda e tanto.

Repouso sob análise
A polissonografia é um exame que pode revelar o padrão de sono habitual do indivíduo. Ele é feito durante o sono, por meio de sensores, colocados na superfície da pele, que enviam informações a avançados aparelhos computadorizados e permitem a coleta de dados e análise do sono em tempo real.

Todo o processo é indolor e é feito o monitoramento de atividades como batimentos cardíacos, movimento dos olhos, respiração, ronco etc. Muitas pessoas descobrem, por meio da polissonografia, sintomas de deficiência do sono que desconheciam e que, não raro, um simples tratamento é suficiente para a cura e melhor qualidade de vida.




FONTE: http://www.sono.org.br/

Antes de ser importante para a es-tética, o sono é uma necessidade vital. De acordo com o neurologista Walter Moraes, da Sociedade Brasileira do Sono e pesquisador do Instituto do Sono, de São Paulo, vários processos biológicos acontecem quando estamos dormindo. É na fase mais profunda do sono, por exemplo, que ocorre a pro- dução do hormônio do crescimento, o GH. Ele evita o acúmulo de gordura, ajuda a melhorar o desempenho físico e combate doen- ças ósseas, como a osteoporose.

"O hormônio do crescimento tem a função de renova- ção e multiplicação celular, além de retardar o processo de envelhecimento. É essa multiplicação celular que renova a derme, trocando as células velhas por novas. Portanto, a for- mação das rugas pode ser amenizada com noites bem-dor- midas", sugere Moraes. "O hormônio do estresse também envelhece. Quando você se irrita e franze a testa aparecem rugas nessa região", complementa.

Os 10 mandamentos para uma boa noite de descanso
1. ter um horário regular para dormir e despertar;
2. ir para a cama somente na hora de dormir;
3. manter o ambiente saudável;
4. não fazer uso de álcool no período notuno;
5. jamais usar medicamentos para dormir sem orientação médica;
6. evitar exageros no consumo de café, chá e refrigerante;
7. praticar atividade física em horários adequados e nunca próximo à hora de se recolher;
8. jantar moderadamente em horário regular e adequado;
9. não levar problemas para a cama;
10. dedicar-se a atividades repousantes e relaxantes após o jantar.

FONTE: INSTITUTO DO SONO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP)

Sendo assim, quem dorme mal tende a viver com me- nos qualidade de vida, pois cansaço, dor no corpo e muito sono são outras conseqüências das noites em claro, que fatal- mente tornarão o dia um pouco mais difícil. E o que não faltam são estímulos externos que contribuem para o problema. Os aparelhos de tevê e os celulares são exemplos de itens nessa categoria que precisam ser desligados.

O gerente de projetos Felipe Ramos só dorme com a tevê ligada. "Durmo pouco e fico muito tempo na cama vendo filmes. Tenho certeza que são práticas que me fazem mal, mas estou tentando corrigi-las".

Outro detalhe: todos os especialistas recomendam não co- mer antes de dormir. O correto é fazer a refeição duas ou três horas antes de deitar para que a digestão não seja realizada "na horizontal". Mas não é só isso: dormir bem, praticar exercí- cios físicos e ter uma alimentação balanceada fazem parte dos cuidados básicos necessários à saúde. Portanto, torne o sono de todas as noites uma prioridade, ligada diretamente à sua melhor qualidade de vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.